Sobre

Brisa Maria Fraga*

Minha relação com a escrita é bastante antiga, certamente bem mais do que consigo vislumbrar, até onde minha memória alcança, teve início com o primeiro pedido de uma professora para compor uma redação, a partir desse momento, a possibilidade de escrever, de me expressar através dessa linguagem, modificou para sempre algo dentro de mim, o que só bem mais tarde, provavelmente só agora, sou capaz de reconhecer. Acho que escrever foi a minha maneira de buscar uma identidade, de dar contorno a tudo aquilo que me parecia gigantesco e ameaçador. Através da escrita, pude criar um universo paralelo àquele que parecia querer me engolir. Ali, dentro das palavras, eu me sentia protegida, o mundo era meu, e eu o desenhava da maneira que quisesse. Talvez por isso, escrever para um grande público fosse algo impensável por muito tempo, o risco da letra precisava ser repetido muitas e muitas vezes, até que esse contorno ficasse claro para mim, como um limite a me dar segurança. Essa relação foi se modificando ao longo dos anos, até chegar aqui, nesse espaço ainda tão novo, mas já tão íntimo, por ser tão meu. Por isso, não consigo ver a história desse blog separada da minha, não consigo não vê-lo nascendo junto comigo, de certa forma, é como se ele estivesse dentro de mim desde sempre, apenas aguardando o momento em que eu estaria pronta para, enfim, assumi-lo. Na prática mesmo, essa história começou a se materializar há alguns bons anos, com a sugestão de uma amiga querida para que eu criasse um blog, embora na época eu tenha encarado a ideia como algo bem remoto. Esses mesmos bons anos mais tarde nos reencontramos, e ela refez a sugestão, só que dessa vez eu a escutei de uma forma diferente, o tal click clickou, e a partir daí, iniciou-se um processo intenso e profundo, daqueles das profundezas da alma mesmo: foram dias e dias consultando minhas emoções (sentir é minha forma mais legítima de pensar), junto com esse processo, minhas dúvidas e medos (que são minha parte racional). Das questões que me tomavam, a maior delas é um mistério, estou tentando ficar confortável com o mistério que sou e sempre serei pra mim, as outras, bem, as mais relevantes: minha total ignorância em relação a web sites, a qualquer palavra iniciada com o prefixo web: eu não sabia nem o que perguntar e para quem! O tempo, ah o tempo! Esse estranho familiar, só não tão misterioso quanto eu mesma, o tempo que não se enquadra de forma alguma nos meus planos, eu tento, e às vezes ele me permite estar no comando dessa relação, mas a verdade é que não sou dona do tempo que levo para escrever meus textos, nem tampouco tenho um processo organizado e linear de criação, essa impossibilidade de um controle sobre minha escrita me preocupava, tinha medo de que um compromisso em manter uma frequência produtiva inibisse minha criatividade, minha escrita é necessariamente intuitiva, escrevo para dar vazão a uma emoção que me invade, e eu não consigo escrever de outra forma, então, ter que seguir uma regularidade era um limite com o qual eu não sabia se conseguiria lidar. Questões passadas a limpo, li, reli, e concluí algumas coisas: que eu sou, e sempre serei eu e meus questionamentos, e que Deus me livre das certezas; e que não fazemos as coisas porque elas estão prontas, mas porque precisam ser feitas. Então, aqui estou, não sem medo, não sem falta, com um desejo enorme de dividir esse espaço com vocês, de contar um pouquinho de mim a cada texto, de experimentar a sensação de ser tocada por essa relação que nasce agora, e ver seu efeito na minha escrita. Convido a quem se sentir convocado, a embarcar comigo nessa viagem ao misterioso e encantador mundo das letras!